Longe da praia, e praticamente "só", diante do baixo número de turistas por aqui, esta época do ano, desembarquei na capital Addis Ababa, para dias de muito aprendizado, em um dos mais fascinantes países da África.
Este país localizado no chifre africano, orgulha-se do fato ser um dos poucos países do mundo, e o único na África, a nunca ter sido colonizado. Os italianos bem que tentaram, mas nunca obtiveram sucesso.
Além disto a língua, a comida, e as músicas são bem típicas do país. Porém, isto não significa que não houve influência estrangeira por aqui.
A maioria cristã ortodoxa, vem da época em que o rei Salomão, veio de Jerusalém para se casar com a Rainha de Sabá, a rainha da Etiópia.
Os mulçumanos vieram da Arábia para estabelecer comércio, e representam hoje uma parte menor, mas expressiva da população.
Os judeus representam uma parcela pequena da população, sendo que parte dela seguiu para o Estado de Israel.
Por fim diversas outras tribos compõe o povo etíope.
Nos primeiros dias em Addis, rodei os pontos turísticos da cidade, que é bem tranquila e segura. Em especial, o museu nacional, único a abrigar fósseis de todas as espécies da linha evolutiva humana, entre eles a famosa "Lucy", nossa mais antiga ancestral.
Museu Nacional de Addis Ababa
Além do museu nacional, destacam-se também o Museu Etinológico, que conta um pouco da história do povo etíope, e as catedrais de São George, e a catedral "of Holy Trinity", aonde está o corpo de uma das figuras mais relevantes para a história africana, o imperador Haile Selassie.
Selassie, cujo nome de batismo é Tafari, foi regente e depois imperador da Etiópia por vários anos, sendo ele descendente direto da dinastia do Rei Salomão.
O imperador é considerado um dos homens mais relevantes na luta pela libertação negra, ao lado de nomes como Mandela e Martin Luther King. Apesar de não ter sido um homem que lutou de forma pacífica, Selassie uniu o povo etíope, após anos de guerra interna, contra os italianos, e teve papel importante com seus discursos na ONU.
Acredita-se que o rei Tafari, ou em Amharic (língua etíope) o Ras Tafari, seja a encarnação de Jah, e por isto o mesmo tem status de Deus, sendo idolatrado em todo continente.
Hoje seus pensamentos são difundidos através do movimento Rastafari, que prega o retorno do povo africano a seu continente, sobretudo nas músicas e letras do cantor jamaicano Bob Marley.
Em uma das suas mais famosas canções, "WAR", Bob Marley reproduz um famoso discurso de Selassie na Nações Unidas:
" Enquanto a filosofia que declara uma raça superior e outra inferior não for finalmente e permanentemente desacreditada e abandonada; enquanto não deixarem de existir cidadãos de primeira e segunda categoria de qualquer nação; enquanto a cor da pele de uma pessoa for mais importante que o brilho dos olhos; enquanto não forem garantidos a todos por igual os direitos humanos básicos, sem olhar a raças, até esse dia, os sonhos de paz duradoura, cidadania mundial e governo de uma moral internacional irão continuar a ser uma ilusão fugaz, a ser perseguida mas nunca alcançada. E igualmente, enquanto os regimes infelizes e ignóbeis que suprimem os nossos irmãos, em condições subumanas, em Angola, Moçambique e na África do Sul não forem superados e destruídos, enquanto o fanatismo, os preconceitos, a malícia e os interesses desumanos não forem substituídos pela compreensão, tolerância e boa-vontade, enquanto todos os Africanos não se levantarem e falarem como seres livres, iguais aos olhos de todos os homens como são no Céu, até esse dia, o continente Africano não conhecerá a Paz. Nós, Africanos, iremos lutar, se necessário, e sabemos que iremos vencer, pois somos confiantes na vitória do bem sobre o mal."
Saindo de Addis fui para Lalibela, a cidade sagrada para os cristãos ortodoxos etíopes. A cidade foi construída para reproduzir as passagens bíblicas de Jerusalém, e é chamada de "nova Jerusalém". A cidade abriga igrejas esculpidas em enormes blocos monolíticos, que impressionam.
Lalibela
Além das igrejas, tive sorte de estar por lá no sábado para visitar o mercado da cidade, uma tremenda bagunça, gente vendendo de tudo, uma verdadeira experiência africana.
O caótico mercado de Lalibela
Novamente na estrada cheguei a Gonder, a cidade dos castelos. Tive pouco tempo por lá. O suficiente para ver os belos castelos, mas sem tempo de ir nos arredores da cidade como ao Simien Mountains Parque, uma das grandes atrações do país.
Castelos de Gonder
De volta a Addis, aproveitei meus últimos dias de África com duas experiências bacanas: a primeira curtir o som do famoso Jazz Etíope, tradicional na cidade, no antigo hotel Taitu. A segunda é sentar em um dos milhares de cafés da cidade para experimentar o café local. A Etiópia é a terra original do café, que posteriormente foi difundido pelo mundo. Os etíopes consideram o café como um presente do país para o mundo. Como um bom mineiro tenho que reconhecer a qualidade do café, o melhor que já provei!
Deixo o continente africano, que foi o mês mais "casca grossa" da viagem, mas de muito aprendizado.
Sigo para os dois últimos meses na Europa, começando pela Turquia, onde terei a oportunidade de matar um pouco da saudade da Ásia, antes de entrar de vez no velho continente.
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Marcelo, os posts estão cada vez melhores e vão ajudá-lo a manter um registro organizado e muito bacana dessa incrível viagem. Quando você voltar lhe darei um livro de presente chamado "A Teoria da Viagem" para ajudar a colocar as coisas em perspectiva. Forte abraço, Tio Vico
ResponderExcluirOpa sera muito bem vindo tio vico! Te agradeco desde ja! Na verdade ja pensei sobre isto, tenho varias ideias, informacoes e fotos que pelos limites de internet, computadores precarios, minha pouca habilidade com a escrita e tambem pouco conhecimento sobre blogs, nao consegui aprofundar durante a viagem, mas que sem duvida levarei a frente! Obrigado pelos comentarios, e aos poucos vou me esforcando para melhorar os posts! (e desculpe a falta de acentuacao, mas o teclado aqui esta complicado hehehe)
ResponderExcluirAbracos, Marcelo